quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

ABDIAS MAGALHÃES ORNELAS (Livro sobre ele), autoria de VALDIVINO MENDES.

F.O.R.M.O.S.O


Valdivino Mendes

Sete com sete são catorze.
E não é conta de mentiroso.
E também com sete letras eu escrevo: Formoso,
Um município com pouco mais de sete mil habitantes,
Pois essa era a quantidade de seu Povo
Nesse lugar bonito, porém, distante,
Onde trabalhar e ser honesto
Ainda é um bem comum a (quase) todos.
E é também um lugar de futuro proveitoso.
Aqui temos muito calor humano.
E entre os meus conterrâneos,
Temos também muita solidariedade.
E como nosso destino nunca foi errôneo,
Adoro viver nessa cidade!

Formoso – MG, 2/9/07.

Nota Editorial da EDITORA UNIFAM

Em nome de nossos associados, a ONG UNIFAM vem a público para lançar mais um livro com seu selo editorial. Em 2010 lançamos a obra “Formoso conta a história de seus Imigrantes”, resultado de um projeto feito em parceria com as escolas de Formoso. Foi um sucesso total. Ficamos muito felizes de compartilhar com nossos estudantes o prazer de ver o texto deles editados na forma de livro. Estamos entre aqueles para quem partidarizar a cultura é crime. Nenhuma família ou grupo social, por mais importantes que sejam, não simbolizam, sozinhos, a tradição de um povo. Cultura é patrimônio coletivo. O anonimato é um dos elementos das representações culturais entre povos despidos dessa vaidade politiqueira que é o etnocentrismo. O autor da História é o Povo, um ente inominado e sem dono.
Nossa principal tarefa ao longo dos últimos anos tem sido a de divulgar e valorizar sempre a memória histórica e cultural do Povo de Formoso sem tomar partido ao contrário de algumas pessoas que se auto-glorificam como pioneiras ignorando muitas vezes o mérito de outras pessoas ou famílias. Quem assim se comporta autodeclarando-se como símbolo de tradição de todo um povo incorre, inevitavelmente, no erro etnocêntrico de se achar como o único dono da verdade ou o único ente transformador da realidade social. Mas a história é construída por todos. Ela só nos pertence enquanto nos vermos como partes desse Todo. A história não tem dono subjetivo.
Hoje trazemos a lume o lançamento do livro CONTRIBUIÇÃO AO CENTENÁRIO DE SEU ABDIAS, que é resultado de nossa parceria com o autodidata Valdivino Mendes. Admitimos de antemão que não se trata de nenhum tratado biográfico com alto embasamento teórico-historiográfico sobre esse personagem tão rico de histórias e memórias, pois sabemos que Seu Abdias é um verdadeiro monumento-paládio de Formoso. E este livro não tem o propósito de biografá-lo nem de tecer análises meticulosas sobre sua vida e obra.
O principal objetivo desse livro é registrar para a Posteridade as impressões resultantes das relações confidenciais e amistosas do autor com seu personagem: Seu Abdias. Outra finalidade desse livro é instigar as autoridades municipais de Formoso (Vereadores, Prefeito, demais políticos, entre outras personalidades) a construírem um programa de celebrações comemorativas aos cem anos de Seu Abdias em outubro de 2012. A ONG UNIFAM encerra incitando todos os leitores desse livro a contribuírem com esse debate de tal modo que possamos realizar o sonho de NUNCA MORRER A MEMÓRIA DE HOMENS TÃO VENERÁVEIS COMO SEU ABDIAS.

Apresentação


Xiko Mendes
(Da Academia de Letras do Noroeste de Minas, da Academia Planaltinense de Letras, da Associação Nacional de Escritores, entre outras).


Fui convidado a traçar algumas linhas neste livro para servirem talvez como prefácio, talvez como introdução. Seu Abdias – essa personagem emblemática e balizadora de toda a história da Saúde em Formoso – ainda está por merecer de nosso Povo, das nossas autoridades e, sobretudo das próximas gerações, um compromisso permanente com sua memória. Muito ainda terá que se escrever para perpetuar no tempo os feitos e mitos inesquecíveis atribuídos a essa figura legendária do século XX em Formoso.
Ninguém nesses dois séculos de história de Formoso foi mais comentado, reverenciado, admirado ou venerado como Seu Abdias. Ele era um Doutor em Medicina e em Farmacopéia sem nunca ter sentado em bancos de universidade. Seu autodidatismo disciplinado superava a erudição acadêmica de alguns doutorzinhos que conhecemos neste país onde educação e saúde são apenas temas de discursos estéreis de demagogos entronizados pela estupidez humana. E neste mundo estúpido, Seu Abdias foi nossa razão iluminista no sertão. Foi nossa resposta à indiferença e à omissão coletiva.
Homem de compleição franzina, barbas longas e grisalhas num queixo delgado, estatura elevada, fisionomia de perfil proto-egípcio com aparência de rabino, Seu Abdias balizou a história de nosso tempo: antes dele a população morria e morria de montão por falta de cuidados médicos. Não tínhamos médicos, posto de saúde e nem sequer quem receitasse remédios. A única solução era nos socorrermos junto aos curandeiros, às benzedeiras, rezadeiras e outros personagens xamanistas ou esotéricos do sertão sem lei, distante do Estado e das prerrogativas constitucionais que impõem a Saúde como um direito essencial à civilidade e à civilização. Seu Abdias separou as fronteiras entre a Barbárie e a Civilização, e abriu o caminho para a transformação radical e definitiva que deu ao nosso Povo dignidade contra a força imponderável e avassaladora das doenças. Seu Abdias é o nosso Mito Civilizador; é um Mito Fundador da origem de um novo tempo, em Formoso. Seu Abdias e Dona Ana (Pereira de Sousa) são as duas maiores personalidades do século XX em Formoso e, quiçá, de todos os nossos tempos!
Quem primeiro entre nós despertou o povo para cuidar da Saúde Pública foi Seu Abdias. Esse homem tão frágil fisicamente, mas poderosamente inspirado por Deus, diagnosticava, com precisão providencial, os males que afligiam nossa população. Nunca fora curandeiro nem mago. Mas centenas de pessoas de Formoso e de vários outros lugares foram curadas com os remédios receitados por ele. E para todo o sempre ficaram devendo gratidão ao Seu Abdias. Nada é mais justo; nada é mais sublime; nada é mais glorioso que relembrarmos sempre e eternamente quanto Seu Abdias foi útil – e eu diria divinamente indispensável – para a existência social e institucional de Formoso como ente político neste país!
Formoso não seria o que é hoje se não fosse a decisão firme e corajosa de Seu Abdias em combater doenças SEM COBRAR NADA, mesmo quando ao final da vida foi pressionado a abandonar seu hábito de receitar remédios para todos, gratuitamente. Independente de serem ricos ou pobres. Humildade, simplicidade, amor ao próximo, abnegação, senso humanitário... Tantas e tantas palavras belas! Mas nenhuma delas consegue em um só significante reunir a gigantesca dimensão filantrópica desse grande HUMANISTA exemplar que foi Abdias Magalhães!
Abdias é um desses raros seres humanos que nascem numa comunidade talvez uma única vez em sua história ou seguramente de meio em meio milênio. Ah! Quantos séculos ainda passarão para que Formoso tenha outros abdias! Esse é um homem que teve o privilégio de herdar a tradição secular de uma família de pessoas devotadas à Educação e à Saúde em Formoso. Junto com Seu Abdias incluem-se nessa lista o Dr. Emídio de Oliveira MAGALHÃES, primeiro formosense que bacharelou-se em um curso superior em 1930 e tornou-se renomado farmacêutico em Belo Horizonte como Bioquímico do Laboratório Urânia; Seu Doca MAGALHÃES, outro primo de Abdias, que montou a primeira farmácia de Formoso nos idos da década de 1960 e apostou também na Educação, mandando sua filha Edna para Januária. Ela voltou como nossa Primeira Normalista e aqui entre nós transformou nosso Sistema de Ensino em menos de vinte anos. E Miguel Carneiro, ilustre historiador e igualmente descendente da família Magalhães, brindou-nos com livros exponenciais escritos sobre Formoso e Sitio d’Abadia.
Os Magalhães se inserem na história de Formoso dos últimos 150 anos como responsáveis por grandes contribuições ao desenvolvimento social e intelectual de nosso município (veja um pouco dessa história no Apêndice desse livro). E isso mostra quanto nossas elites dirigentes ainda são injustas com alguns de nossos grandes antepassados! Um deles, Seu Abdias, está esquecido desde quando morreu em 1994. Esse homem tinha que ser tudo: nome de hospital, nome de rua, nome de praça, logomarca dos grandes projetos de nosso tempo... Devia aparecer em banneres durante os eventos oficiais da Cidade. Mas, infelizmente, a “política de varejo” feita no balcão das ilusões que se repetem a cada encerramento de eleição, atrapalha essa campanha cívico-patriótica a favor da preservação da memória de grandes homens como Seu Abdias.
Este livro de Valdivino Mendes é uma modesta tentativa de inserir o debate sobre as grandes questões de nosso tempo na agenda política e social dos homens que nos governam. O valor de um povo é fruto da força de sua Cultura e da vontade de sua gente em marcar sua presença na Memória Épica da Humanidade com grandes realizações. Um Povo que ignora sua própria História está fadado a morrer aos poucos nos braços do Obscurantismo ético e político que se sucede no curso lento e cruel da Mediocridade intelectual dos homens que os governam. Daí eu ver nessa obra a força vital e inexpugnável como um pequeno grande livro cuja contribuição inestimável obriga-nos a suspender o olhar míope sobre a vida cotidiana para nos depararmos com a imensa grandeza de homens ímpares e raríssimos como Abdias Magalhães.
Valdivino Mendes cumpre, quase que religiosamente, a tarefa missionária de colocar Seu Abdias na agenda institucional do nosso município, visando as comemorações do Centenário dele, em 2012. A mim restam poucas palavras: que Deus abra a mente dos homens e que a Humanidade veja em pessoas como Seu Abdias, mais que um lampejo civilizatório; e, sim, que ele seja sempre visto como o nosso Clarão de Luz Eterna iluminando os caminhos tortuosos do homem e do mundo em que vivemos.
Parabéns, Valdivino, por essa brilhante iniciativa de concelebrar Seu Abdias e, ao mesmo tempo, nos convocar também para a preservação da natureza, dos rios, das paisagens e personagens de Formoso! É para isso que servem a história e os historiadores: para neutralizar o choque amnésico na mente contemporânea e nela instalar um novo espírito de celebração triunfante dos grandes feitos humanos. Seu Abdias é o triunfo da vontade de Deus pairando, épica e silenciosamente, sobre a mediocridade dos homens numa época em que honestidade, simplicidade, humildade e abnegação tornaram-se valores raros na paisagem humana. Relembrar Seu Abdias é rever esses valores sempre.

Homenagem ao Seu Abdias (I)

Valdivino Mendes

Seu Abdias:
Para se fazer o bem,
Esforço ele não media.
Sempre estava disposto a servir
À noite ou de dia.
Na vida não fez uso da prepotência
Nem da tirania.
Nunca fez uso do orgulho
Nem da fidalguia.
Ele era de origem nobre,
Mas gostava da simplicidade
Da gente pobre.
Nunca acumulou dinheiro,
Nem ouro nem cobre.
Vivia como fiel da balança
Como quem não desce
Nem sobe.
Seu Abdias:
Homem conceituado
Pelo povo de sua terra
Que dele tinha respeito e simpatia.
Ele desprezava o ódio,
O orgulho e a valentia
Porque amava a Deus
E ao próximo em comunhão fraterna.
Não dava apoio aos prepotentes
E a quem pratica a soberbia.
Ele gostava da liberdade
E exaltava a democracia.
E o povo ele sempre atendia
Sem preguiça nem burocracia.
Viva Seu Abdias!!!

Formoso – MG, 5/6/08.


Homenagem ao Seu Abdias (II)

Valdivino Mendes

Deus que a tenha,
Em Sua grandeza,
A alma abnegada de Seu Abdias!
No tempo dele, médico por aqui não existia.
Mas falta de médico ninguém sentia.
Era assim o Seu Abdias:
Só receitava remédio de farmácia.
Nunca foi curandeiro ou curador.
E por causa de doença
Ninguém sofria.
Estando com ele, dava-se fim à dor.
E nosso povo acreditava tanto nele,
Que nem mesmo da morte se lembrava ou temia.
Esse era o Meu Grande Mestre Abdias:
Um gênio que trabalhava com muita responsabilidade,
E só não fazia exames e cirurgias.
O paciente, ao conversar com ele,
A saúde já se aproximava,
Pois a confiança era tanta,
Que na primeira noite,
Sossegado, já dormia.
Aliviado de seus males,
O paciente ficava feliz
Como um escravo quando recebe do patrão,
A liberdade mediante carta de alforria.
Sei que Deus ama os humildes de coração,
E despreza os soberbos e orgulhosos;
E todos que usam a prepotência e a valentia.
Esse era o meu Soldado contra as epidemias:
O nome dele é o Mestre Abdias!

Formoso – MG, 8/12/08.




Homenagem ao Seu Abdias (III)

Valdivino Mendes

Ele era de uma nobre família,
E com sua inteligência aqui em Formoso,
Ele tornou-se um gênio e um homem bondoso.
Esse é um mestre que nasceu só para servir ao povo.
Assim era o Seu Abdias:
Um homem que com sua sabedoria,
De quase tudo ele sabia:
De farmácia à medicina,
E de mais um pouco ele conhecia.
Ele trabalhava de ferreiro
E exercendo ofícios de carpintaria.
Até mesmo os grandes médicos,
Diante dos conhecimentos dele,
O respeitavam e o temiam.
Seu Abdias era mesmo um predestinado a fazer só o Bem.
E Deus era sempre o seu Grande Guia.
Foi um mestre que sempre atendia todos,
A qualquer hora.
Não se importava se fosse à noite ou ao longo do dia.
E, com amor, ele possuía
Perfeição em tudo que fazia.
Só não foi um profeta
Porque não foi dado a ele o dom da profecia.
E sempre com boa vontade,
Estava pronto a ajudar as pessoas
Em tudo que podia.
E os sábios do tempo de Seu Abdias,
De longe prestava atenção,
No que ele fazia.
E o acompanhavam com grande admiração
Devotando-lhe muito respeito e simpatia.
E o trabalho de Mestre Abdias, os médicos aprovavam.
E não proibiam.
Naquele tempo,
Aqui ele trabalhava para todos que adoeciam;
Até para aqueles que só por informação
Que de outras pessoas obtinham,
Ele não se negava e sempre atendia.
O remédio ele dava certo
Porque Deus o inspirava e lhe protegia.
A receita que ele passava
Era dada com responsabilidade,
Pois é assim que ele escrevia:
Com o coração de um homem bom
E com suas mãos de pessoa honesta
Nessa Terra de Nossa Senhora D’Abadia.
Muitos que conviveram com ele,
Não conheciam o talento dele
Nem metade de sua grande sabedoria.
Os anjos dos céus eram os protetores dele
Junto com a nossa Virgem Maria.
Naquele tempo
O Seu Abdias já tinha muitos invejosos,
Desses que seguem nossos passos, nos perseguem e vigiam.
E digo que as gerações de nossos dias,
Ao lerem esses versinhos,
Perceberão a história do Grande Abdias,
Uma epopéia que aqui narro em singelas poesias.
Aqui em Formoso, há muito tempo,
Viveu esse homem santo,
Que só praticava as boas obras,
Porque sua conduta era boa de sobra.
Ele era um homem do Bem.
Esse era o gênio Abdias!
Para mim era uma espécie rara
Que até hoje dificilmente
A terra cria.
Esse é um nome de grande respeito,
Que a juventude de Formoso
Até agora não conhecia.
Seu Abadia também sofreu constrangimento
Assim como Jesus que também não escapou da hipocrisia.
Ser bondoso para a humanidade
Sempre foi uma grande utopia.
Agora falo como era ele em família:
A esposa dele chamava-se Dona Alice.
E teve com ele um filho e duas filhas.
E para seus familiares,
Ele sempre dava atenção e sorria.
Pagar o bem com o mal
Era uma coisa que ele não sabia.
Para todo o Município,
Era assim o Seu Abdias:
Ele trabalhava e servia!
Esse dom de ajudar o mundo
Sempre o acompanhou desde menino.
Ele era mesmo um gênio ladino,
Daqueles que sempre aprendia sozinho,
Mesmo quando há falta de ensino.
No fim de sua vida,
Ele quase não cumpriu todo o seu destino,
Pois o Seu Abdias foi muito perseguido
Por gente maldosa parecida com ave de rapina.
E por seus relevantes serviços prestados ao povo,
Ele nunca recebeu salário, favor nem propina.
Tudo fez de graça pra toda a região perto de Formoso.
Seu Abdias trabalhava na sua lavoura
E ainda trabalhava de ferreiro e “carapina”.
Fazer bem a todos:
Essa era sempre sua sina.
Mas por pouco a sua missão
Quase que não termina.
Mas é assim a nossa curta passagem pela vida.
E isso dá-nos muita experiência
E sempre nos ensina.
O sofrimento fez ele e faz a gente buscar
Maneiras criativas para quem raciona
Visando fazer a caridade sempre a quem está pedindo.
E que o Senhor Deus, bem lá cima,
Sempre esteja com ele e agora nos ouvindo,
Fazendo com que o inesquecível Seu Abdias,
Esse homem que tinha dons divinos,
Seja sempre o nosso eterno guia
E nossa grande bússola,
Reorganizando os nossos destinos.
Formoso – MG, 9/4/06.

Homenagem ao Seu Abdias (IV)

Valdivino Mendes

Há muito tempo
Estou preocupado com isso:
Prestar ao Seu Abdias
Uma pequena, mas justa homenagem,
Tanto a ele quanto à sua esposa, Dona Alice.
Ainda que me custe dinheiro
E até mesmo muitos sacrifícios.
Eu sei que a vida desse Grande Mestre
Foi toda dedicada para o bem do nosso povo
A quem ele sempre prestou grandes serviços.
Para fazer o bem, o Mestre Abdias
Nunca mediu nenhum esforço,
Nunca perdeu tempo em seus dias
Nem se deixou perder em desperdício.
Sei que para Homens de Bem,
Tempo é algo precioso
E não pode ser desperdiçado.
É por isso que Seu Abdias,
A vida inteira,
Aproveitou seu tempo sendo um homem bondoso.
O nome dele aqui na terra
Para sempre será honrado.
E sua alma – eu tenho certeza disso,
Já foi acolhida pelo Nosso Senhor Jesus Cristo
Junto com a Mãe de Deus,
Que certamente já o levou ao Trono do Altíssimo.

Formoso – MG, 30/4/07.






Homenagem ao Seu Abdias (V)

Valdivino Mendes

Seu Abdias:
Em Formoso, ele morava
No bairro da Capuava
Abaixo de onde hoje é a Rua Januária.
E essas eram as pessoas vizinhas:
Seu Damaso, Dona Bia
E a Dona Chiquinha.
Falar mal do nome de Seu Abdias
É falar sempre em vão;
E você pode “cair numa fria”.
Ele foi um Grande Mestre do Saber
E, para mim, ele sempre dizia:
“Só sei que nada sei”,
Frase essa, que era de Sócrates,
Um grande mestre da Filosofia.

Formoso – MG, 15/4/06.










Homenagem ao Seu Abdias (VI)

Valdivino Mendes

Assim era o meu amigo Mestre Abdias:
Embora sempre ocupado, ele sempre servia
A todos que na sua casa apareciam.
E dessa luta ele nunca fugia.
Ele sempre estava disposto.
E ele, para ajudar o seu povo,
Sempre andava cheio de energia.
Ele foi o melhor que veio do ventre de sua mãe.
E nasceu aqui nesse chão de
Nossa Senhora d’Abadia.
Meu amigo Mestre Abdias amava o saber.
Mas o seu conhecimento ele escondia
Por excesso de modéstia e humildade.
Ele também era um amante da humanidade.
E, por isso, sua capacidade ele não exibia.
E pelo povo ele sempre foi aplaudido
Conforme merecia.
Ele era habilidoso e genial!
E isso era uma virtude que a gente já sabia.
Porém, sua luminosa inteligência era e é um mistério,
Um grande segredo cheio de sabedoria.

Formoso – MG, 20/4/06.


Parte II – Outras Homenagens e Reflexões

Recado aos Políticos

Valdivino Mendes

Senhores Governantes:
Mandem bons médicos para o hospital!
Aqui no Interior as coisas vão mal.
O atendimento é desumano
E a gente é tratada como animal.
O preço do medicamento
Mata mais depressa que a doença.
E logo mandam o paciente
Internar-se de barriga pra cima,
Cumprindo penitência
Como se maca fosse curral.
Fazem assim com quem
Não tem dinheiro
Para se fretar um carro
E sair depressa.
E a pessoa, no desespero,
Fica agonizada como num pote de sal.
Aqui no Interior,
O povo é carente.
O rico não ouve do pobre o clamor.
E que esse recado chegue à Capital!

Formoso – MG, 16/12/08.





Junte-se a Nós na Preservação da Natureza!

Valdivino Mendes

Antes que seja tarde,
Aqui fica meu recado para quem tem bom senso:
Enquanto há tempo,
Vamos salvar a Lagoa do Lenço!
Vamos mobilizar o Povo Formosense
E despertar nele essa consciência?
Vamos convidar homens de bem e
E quem mais compartilha do que eu penso:
Vamos testar nossa ação e colocar
Em prática a nossa inteligência,
Pois, para salvar a vida,
Não precisamos pedir licença
A nenhuma autoridade constituída
Nem consultar político de grande influência.
Ou esperamos que outros façam por nós
Para se receber a recompensa?
Acho que estou trilhando o caminho certo.
Não sei se outros agem como eu penso,
Pois desmatamento só traz pobreza,
E onde é verde vira deserto,
Poluição, fome e doença.
Fico contrariado, pois, sozinho,
Não posso fazer nada
E meu coração fica em suspenso.
Quero que você se junte a nós.
Não podemos ficar em silêncio.
Vamos garantir o amanhã,
Pois o passado e o presente
Nos legaram uma amarga experiência.
Não vamos medir esforços,
Pois a retribuição vem de Deus
Com a vossa divina benção.
Quando vejo alguém devastar a natureza,
Eu perco a paciência.
E dá-me muita comoção.
Eu olho para o futuro
E isso também me dá uma profunda descrença.
Vamos salvar a Lagoa do Lenço!?!?!?
Da nossa parte está faltando competência.
É preciso garantir
Entre nossas crianças
O nosso porvir.
E não ser como aluno na escola
Acostumado com a repetência.
É hora de se fazer a nossa parte
Porque de Deus sempre contamos
Com Sua santa Providência.
E se não salvarmos o planeta Terra,
Poderemos ficar na mais pura indigência.
Vamos salvar o nosso mundo!
Vamos salvar a Lagoa do Lenço!
Vamos unir trabalhando nessa empreitada
Com coerência?
A agressão humana cada vez mais
Aparece com maior violência.
Aqueles que estão arruinando a Terra,
Muitos deles, apesar de seus conhecimentos científicos,
Já estão em decadência.
Multidões inteiras
Estão morrendo
Com furacões
E turbulências.
O homem hoje está órfão de nossa Mãe Natureza.
E dela estamos na dependência.
Vamos preservar o Planeta
E a nossa querida Lagoa do Lenço?
Por causa dos crimes praticados por outros,
A natureza dita a nós a sua sentença.
E destruir nossos recursos naturais,
Não vale a pena.
É um crime que não compensa.
Homens podem construir,
Mas podem destruir tudo com rapidez imensa,
Muito mais que aquilo que nossos olhos vêem
E a gente pensa.
Junto com os animais,
Que vivem em plena inocência,
Nós, humanos, já estamos em nossa época,
Sentindo essas gravíssimas conseqüências.
Mas, ao contrário dos animais,
Nós, humanos, temos plena consciência.
Vamos purificar esse ar que respiramos?
Assim ficaremos na Terra por muitos séculos;
Nós e a nossa descendência.
Pedimos ao nosso Senhor Altíssimo
Que dê-nos permissão de deixar
Aqui essa espécie humana em longa existência.
E que, assim, possamos garantir nossa permanência.
Aquilo que tiramos da Mãe Natureza,
Devemos a ela prestar mútua assistência.
É por causa dos gases de efeito estufa
Que o clima esquenta e a gente não agüenta.
Estamos espremidos como parafuso na prensa.
Vamos salvar o município de Formoso e a
Lagoa do Lenço?!
Vamos defender a natureza em qualquer lugar,
Mesmo sem saber a quem pertença.
Se todos se unir a nós nesse projeto,
Em pouco tempo sentiremos a diferença.
Para o bem de todos não precisamos ser ricos
Ou ter casa cheia de mantimentos na despensa.
Aquele se que negar a lutar pela Natureza,
Ela anotará no futuro sua ausência.
A Terra é a nossa morada.
Em cima da Terra precisamos curvar nossos joelhos.
Em cima da Terra prestamos à Natureza
Nosso ritual de continência.
Deus nos deixou aqui para trabalhar pelo bem
E prestar a Ele total obediência.
Tudo aquilo que fazemos de bom,
Temos o apoio de Deus se for feito com prudência.
Acredito que se respirarmos sempre um ar puro,
Conseguiremos a nossa independência
Para melhorarmos o nosso mundo
Ao longo da nossa existência.
É preciso que o homem aja na hora certa,
E com habilidade e emergência.
Contra a derrubada das florestas,
É preciso que a gente se mobilize com urgência,
Pois vai chegar um dia em que precisaremos
Prestar contas de nossas ações ao Criador do Universo,
E cada um de um em um Deus chamará
Em sua presença
Para se esclarecer
O nosso fracasso ou
O nosso sucesso,
Vamos mostrar o verde
Ou a imensidão do deserto.

Formoso – MG, 17/10/05.






Rios de Formoso: Precisamos preservá-los!

Valdivino Mendes

Os rios de Formoso
São estreitos,
Porém, profundos e caudalosos em seus leitos.
Em alguns deles, temos “veredais” formosos.
Seus vários afluentes pequenos, porém, numerosos.
Eles garantirão água no futuro
Para a sustentabilidade dos povos.
Temos o ribeirão Taboca,
Que é protegido com sua vegetação.
Em suas margens não se toca.
É um rio cujas águas são limpas e claras.
E isso é uma beleza rara.
São águas ainda livres de agrotóxicos.
Temos também o rio Mato Grande
Com matas protegidas dentro do
Parque Nacional Grande Sertão Veredas.
Temos também o rio Carinhanha,
Que hoje é visitado
Por turistas do Brasil e de todo lado,
Gente que é conhecida ou que é estranha.
É um rio rico onde há centenas de peixes
Como dourados, pacus, surubins e piranhas.
Quem pesca nesse rio, “pega peixe de montanha”.
Também é nosso o bonito Rio Preto.
E antes ou depois da chegada do rei D. João VI,
Ninguém nunca o viu seco.
Ali, com seus pântanos e brejos,
Curtir a natureza é um privilégio.
Nas margens desse Rio Preto
Conheci uma fazenda muito famosa
Que pertencia aos irmãos Claudionor e Manassés.
Formoso também tem o rio Piratinga.
Mas hoje quem o vê de baixo para cima,
Vê que de sua vegetação,
Só restou a restinga.
E por causa da grande devastação,
O Piratinga mais parece uma caatinga.
Esse rio está assoreado.
Está cheio de madeira seca e pobre.
Em qualquer parte de seu leito ele está tão raso
Que se pode improvisar até vaus.
E essa é a marca do nosso progresso
Construído por mãos de homens avarentos e maus.
Seus principais afluentes são:
À direita, o Santa Bárbara;
À esquerda, Rasgado, Tabocas e Quebra-quinaus.
Temos ainda em Formoso o São Domingos.
Em cujo leito as águas mais parecem pingos.
Estão paradas como em cacimbas.
Esse é um rio que já está quase morto.
Durante mais da metade do ano,
Ele mais parece um poço.
No meio de seu leito,
Nos meses entre junho e agosto
O fundo desse rio quase todo descoberto.
Isso deixa-nos a impressão
Que ele mais parece um amontoado de osso.
As matas que lhe davam proteção...
Não mais se vê.
Também não é visto arvoredo reto ou torto.
A raça humana e os animais já sentem esse desconforto.
E se o homem não cuidar de nosso mundo,
A vida no futuro será privilégio de poucos.
O ser humano será mal gerado ou mal nascido,
Além de aumentar a indução de aborto.
Já aparecem e aparecerão muitas doenças,
Quase todas desconhecidas das ciências.
E essas doenças, apesar do esforço da medicina,
Os nossos corpos elas já contaminam.
E sem solução,
Estamos perdidos como marinheiros
No meio da escuridão.
E sem mapa e sem bússola,
O homem já está em desespero,
Vítima desse processo de transformação.
Formoso – MG, 30/7/06.

Os Jatobás da Praça Felipe Tavares

Valdivino Mendes

Do que resta de nossa flora,
Desde hoje se a gente não cuidar,
Apenas carvão e cinza vão sobrar.
E o futuro de nossas crianças
Como vai ficar?
Tenho a certeza e a esperança
De que os nossos majestosos e amados jatobás,
Se falassem,
Fariam a nós essa cobrança.
Mas seus galhos nos fornos de carvão
Nunca vão se queimar.
E os tijolos de barro
Às custas de sua lenha
Nada vão cozinhar.
O machado e o moto-serra
Em seu tronco eles não irão trabalhar.
Outras árvores dessas
Nós não iremos substituir em seu lugar.
Tão importante como esses jatobás,
Aqui perto ou longe,
Nós não iremos achar.
E a sua madeira em fonte de energia
Não vai virar.
E as usinas siderúrgicas
Às custas de sua lenha não vão se alimentar.
Em relação ao amanhã
Temos que nos preocupar
Antes que o Planeta Terra
Se transforme em um deserto
Que só servirá para corujas
E lombos habitarem em ambiente infecto.
Que Deus salve a nossa Terra!
E sobre ela teremos que nos orgulhar.
Temos esses jatobás
Como o símbolo maior do nosso lugar.
E por meios legais,
Como patrimônio do povo,
Vamos lhes tombar.
E é com muita honra
Que aqui venho lhes homenagear.
Precisamos criar
Uma lei para na Câmara tramitar
Fazendo com que o Poder Legislativo
Em breve possa assim aprovar.
Se isso acontecer,
Saibam que os nossos jatobás
Serão a nossa maior marca neste lugar.
E os homens do futuro
Vão nos respeitar.
E com muito carinho,
Eles vão lhes conservar,
Proteger-lhes do perigo,
Do Machado e do motosserra.
Eles não vão lhes cortar.
Em chamas pelo ar
Ou em forma de fumaça,
Eles não vão voar.
E por isso o verde de nossas matas
Não vão mudar.
E outras árvores
Nós vamos um dia plantar.
Nós e nossos filhos
Estamos a precisar
De um ar puro
Sempre a respirar.
Outras florestas
Não vamos derrubar.
A Deus peço que salve o nosso mundo
E esses dois pés de jatobás
São a nossa testemunha ocular
De muitos fatos e gerações
De homens importantes,
Que eles dois já viram passar.
Essa é a relíquia maior
Que o Passado nos legou.
E é herança de nossos pais e avôs.
Muitos deles já se foram
E eu aqui ainda estou.
Não posso dizer outra coisa
A não ser um bom exemplo dar.
Assim faço-lhe minha despedida
Com um “até já!”
Dizendo minhas últimas palavras:
Salvem nossos jatobás!!!

Formoso – MG, 12/11/05.














Seu Claudo ou Claudemiro

Valdivino Mendes

Seu Claudemiro:
Sua vida é uma história
Que sempre exalto e admiro.
Com seu nome faço rimas
Porque em sua trajetória me inspiro.
Essa é uma homenagem que lhe faço aqui,
Que também é para o seu filho Delci
E para Dona Maria, a esposa, filha de Teadomiro.
Seu Claudo foi pioneiro em um mundo
Longe de tudo neste sertão caipira.
Em Formso fora comerciante.
Na sua loja havia e vendia de tudo:
Do sapato a tecidos finos,
De chapéu de massa até casimira.
Falar agora sobre Claudemiro
É invocar um passado que
Do saco só restou as embiras.
Seu Claudo ia muito longe de Formoso
E lá comprava suas mercadorias.
E com muita dificuldade as trazia.
E em Formoso e a bons preços ele vendia.
Em um passado não muito distante,
Seu Claudo ia até Belo Horizonte.
Era uma época em que Formoso
Não tinha estradas nem pontes.
Seu Claudo nunca mediu esforços
Para superar obstáculos
Com seu gênio forte
Sonhava ver Formoso diferente no horizonte.
Para vencer na vida é preciso trabalhar com fé,
E muita garra para que se possua um futuro brilhante.
É preciso acreditar em Deus,
Independente de ser católico e protestante.
Assim foi seu Claudo ou Claudemiro:
Um homem cuja vida é exemplo
E em quem sempre me inspiro.

Formoso – MG, 12/7/06.


Ao Seu Amélio Ornelas – Meu Alfabetizador na Roça

Valdivino Mendes

Do analfabetismo eu não tenho mais medo
De nenhuma de suas mazelas.
Quem me incluiu no mundo das letras
Em um belo dia foi Seu Amélio,
Que era filho de Idalina e Martinho G. Ornelas.
Só Jesus pagará a ele por isso.
Que ele possa quem sabe,
Ainda que em sonhos,
Viver em um castelo.
Segundo nos diz a Bíblia,
Os dois primeiros filhos de Adão e Eva
Eram chamados de Caim e Abel.
E faço agora uma comparação:
Quem não ler o que se acha escrito,
Passa por um sofrimento cruel.
Sei que foi no antigo Egito
Onde se construíram pirâmides que alçam aos céus;
E na Babilônia
Ficava a Torre de Babel.
Sei disso por ser alfabetizado
Graças à proteção de Deus.
E graças à alfabetização feita por seu Amélio.
Com o alfabeto, nada hoje me embaraça.
E nada no meu caminho me atropela.
Foi na roça que aprendi ler e escrever na raça.

Formoso – MG, 30/10/05.





Por que Escrevo!

Valdivino Mendes


Falo para todos aqueles
Que estão me ouvindo:
Gosto da onça por ser um animal felino
E do gavião que é ave de rapina.
Olho a sagacidade deles
Para em meus versos encontrar a melhor rima.
Não sou de deixar a peteca cair no chão,
Pois sempre levanto as mãos,
Aparo e devolvo-a para cima.
Tenho esse dom que Deus me deu desde
Os tempos quando eu era menino.
Não sou mal humorado;
Também não é qualquer um que me faz estar rindo.
Escrevo sobre coisas que ninguém nunca me ensinou.
E nunca me ensina.
Se eu tenho inspiração,
Ela é da Providência Divina.
E se tenho o dom de ser criativo,
Agradeço a Deus pela boa sina.
Sei que cabeça boa Deus dá para quem mereça,
Pois inteligência não se acha em oficina.

Formoso – MG, 30/10/05.






APÊNDICE

150 Anos de Contribuição da família do Patriarca Alexandre F. Magalhães ao Desenvolvimento de Formoso

Xiko Mendes

Anos 1860: O imigrante Alexandre Francisco Magalhães, natural de Formiga-MG, torna-se fazendeiro na beira do rio Ponte Grande, dando origem a essa família em Formoso. Seus filhos Dionízio, Firmino, Emídia e Ana (mãe de Seu Abdias) são os responsáveis pela expansão da família em Formoso-MG e em Sítio d’Abadia-GO.
1912: Nascem Abdias e Pedro (Doca) Magalhães, dupla que revolucionaria o sistema de saúde e educação, em Formoso.
1930: Dr. Emídio de Oliveira Magalhães (filho de Firmino), comemora sua formatura em Bioquímica (Farmácia). É o primeiro cidadão de Formoso a concluir um curso superior. Ela inicia a tradição dos Magalhães em atuar no ramo farmacêutico.
Anos 1940/1950: Seu Abdias Magalhães, neto de Alexandre Magalhães, desenvolve sua formação intelectual como autodidata em Medicina e Farmácia sob influência, principalmente, do imigrante Aureliano Furtado.
Início dos anos 1960: Um século após a chegada da família Magalhães em Formoso, Pedro Magalhães (Seu Doca), bisneto de Alexandre Magalhães, e primo de Seu Abdias, instala a primeira farmácia de Formoso. Seu Abdias é indicado para a supervisão farmacêutica. Ele passa a receitar “remédio de farmácia” num espaço exclusivo. Na mesma época, Levy Carneiro Magalhães, bisneto de Alexandre Magalhães, inicia brilhante carreira política elegendo-se três vezes seguidas para vereador do município.
1968: Profª Edna de Moura Ornelas, filha de Doca Magalhães e trineta de Alexandre, primeira Professora Normalista de Formoso, torna-se Diretora escolar. Em quinze anos, ela revoluciona o ensino público em Formoso consolidando a implantação de todas as séries da Educação Básica.
Anos 1970: Abdias Magalhães Ornelas e Israel Magalhães Ornelas elegem-se vereadores. Seu Abdias assume a supervisão da segunda farmácia de Formoso pertencente ao seu genro, Gerson Moreira dos Santos. Os três primos Abdias, Doca e Israel, fundam, no início dessa década, o primeiro centro espírita de Formoso, de orientação kardecista, na esquina da rua Paracatu com a Av. Castelo Branco. Com apoio de Seus Abdias, Gerson é eleito o mais votado dentre os vereadores.
1979 – 1987: Abdias assume a supervisão da terceira farmácia de Formoso, pertencente a outro genro dele, Sr. Vilmar Teixeira Ornelas (10/10/1947 – 25/05/2003). Com a desativação dessa farmácia, ele deixa de receitar remédio devido a pressão corporativista de um parente dele, com formação médica.
1994: Morre Abdias Magalhães após mais de quarenta anos atuando no ramo farmacêutico, gozando do Reconhecimento Público do Povo em Formoso e em toda a região.
1998: Trinta anos após ter iniciado a Revolução na Educação de Formoso, morre a Educadora Edna de Moura Ornelas, filha de Doca Magalhães; prima segunda e terceira de Seu Abdias.
2004: Jurandir Carneiro, economista e vereador, trineto do Patriarca Alexandre Magalhães, é eleito Presidente da Câmara Municipal de Formoso, e candidata-se sem êxito a Vice-prefeito de Formoso.
2005: Escritor Ismael C. Magalhães (Miguel Carneiro), bisneto de Alexandre Magalhães, ex-vereador do distrito de Formoso em São Romão-MG e ex-vereador do município de Sítio d’Abadia-GO, publica seu livro “Formoso: Dois Séculos de História”.
2006: Abdias Magalhães torna-se Patrono da Saúde Pública de Formoso mediante aprovação na Câmara Municipal de Formoso.
2008: Vilmar Ornelas Filho (Vilmazinho), bisneto de Seu Abdias e trineto do Patriarca Alexandre Magalhães, retoma a octogenária tradição da família em exercer atividades farmacêuticas e ligadas à Saúde, e funda a Drogaria Formoso. Vilmarzinho mantém, assim, a tradição iniciada em 1930 com o farmacêutico Dr. Emídio Magalhães de quem é primo terceiro por linha materna.
2012: Centenário de Abdias Magalhães Ornelas e de Pedro (Doca) Magalhães de Moura, dois pioneiros na valorização dos Sistemas de Saúde e de Educação, em Formoso. Será que Prefeitura e Câmara de Vereadores, em Formoso, nada farão para lembrar esses dois grandes homens que prestaram relevantes serviços ao setor farmacêutico em nossa cidade?
OBS.: Esse texto foi feito, apedido, para publicação exclusiva neste livro. Nós agradecemos a gentileza do historiador Xiko Mendes, que muito ajudou-nos a terminar essa pequena obra, que é um dos grandes sonhos que sempre tive na vida (V.M).






Poesia Satírica sobre “Briga de Domingo Sete com o Irmão Antônio Maciel”, na área do Cajueiro, Vale do Rio Carinhanha, Bahia, Início do Século XX

Ursulino José Barbosa

(“Ursino” – como era chamado – era primo de Firmino José Barbosa, avô de Valdivino Mendes, que gravou na memória essa poesia que a ele foi repassada por Dona Antônia José Barbosa, irmã do Sr. Firmino e mãe de Helena, viúva do Tio Venço. O Sr. Domingo Sete era casado com Ciriaca, irmã de Firmino e Dona Tonha).

Seu Dumingo:
O sinhô me deixa sussegado;
Sinão hoje eu quebro seu cachimbo.
Homem séro num briga,
Num bate, num apanha e num xinga.
Meu nome é Antõe.
Se ocê qué briga.
Nóis briga.
Porque um home é pra ôto home.
Sai da minha frente!
Pra bem longe tu some!
Meu dinhêro custô esforço.
E de graça ocê num come.
Meu dinhêro tá num borço.
Mais na marra ocê não me toma.
Se eu “lê” pagá duas veiz,
Minha famia passa fome.
E qu’ndo tô endividado de verdade,
Dirda me tira o sono.
Ocê pensa que sou o véio Bruno?
Mais hoje eu “lê” tiro esse mau costume!
Pois em cima do que é meu
De graça ocê num apruma.
Às custas de róbar,
Tu já feiz u’a furtuna.
Se ocê num me deixá sussegado,
Eu “lê” boto pra imbora,
Que até de sua casa,
Tu perde o rumo.
Nunca mais ocê vende cachaça;
Num vende sal nem fumo.
E ocê pode sigurá o corpo,
Que eu já vou “lê” mandá essa burduna.
E aí Dumingo não deu conta de ficá em pé.
Saiu caminhano ora de arrasto,
Ôta hora de quatro pé.
E assim Dumingo andô légua e mêa até
Chegá na Fazenda Catolé.
Por onde Domingo passô
Havia um arrastadô
Que até parecia
Que ali passô
Foi um jacaré.
Quando chegô na casa,
Dumingo chamô a muié.
E disse: “me acode com um copo d’água
Ou mermo com um gole de café!”.
E a muié priguntô: “o que foi isso, home?”.
Ele respondeu:
“É porque hoje eu tô com muinto disgosto.
Aqui nessa terra só tem gente mal.
Hoje tô no fundo do poço
E dento dum rio que num dá vau.
Gente à toa tem de sobra.
O povo daqui é maldoso cumo cobra.
É u’a terra onde num tem ôro
Nem prata nem cobre.
Diz por aí que num sô direito.
Mas hoje em dia
Quem num mente, num furta e num róba;
Esse na vida num sobe.
E quem anda direito,
Esse tá condenado
A nascê, vivê e morrê pobe.
Hoje mermo me acertaro um bote.
Os cabra era dois.
Um me deu uma pesada na bunda
E ôto me deu um pinote.
Me déro um murro no “stambo”
E um tapa no cangote.
Um me bateu de taca,
E outro de chicote.
Eu, que já fui marruás,
Hoje sô bizerro.
E quem era bizerro,
Hoje virô garrote.
Até mermo o Seu Timote,
Ôto dia me deu u’a carrêra,
E hoje me deu um trote.
Me déro um impurrão.
E me jogaro pá riba.
Caí cum as costas incima dum pilão.
Quaje quebrei as pernas,
E ainda machuquei as mão.
Gastei um conto de réis
Quereno recebê um tostão.
Quaje eu saio desse mundo.
E nunca mais ia comê abroba
Cum arroiz, carne e feijão.
No caminho só encontrei Hipólta,
Que num me acudiu nem na ida nem na vorta.
Dizem por aí que sô ruim,
Mais num sô tão ruim assim.
Mais tem umas coisas na vida
Que me revorta.
Do jeito que as coisas vão andano cumigo,
Num posso mais andá sozim.
Daqui a pouco tenho que andá cum escolta.
Dumingo hoje me disse que tem muinto dinhêro.
Ele muntô no seu cavalo galopêro
E foi até na vila do Cajuêro
Arrotano muito papo
E fazeno muinto zueiro.
Pra cumpri seu disejo,
No arfoje levô um quêjo
Pra dá um amigo de presente.
Naquele dia ele trajava bem
E até parecia que era gente.
Quando chegô no puvoado
Contano seus “caus” disaforado,
Dumingo apanhô de um tenente.
Ele dessa vez andô pra trás.
Não seguiu viagem
Pra frente.
À noite ele chegô na casa.
E disse pra sua muié
Que tava feliz da vida
E muinto contente.
Havia ganhado u’a causa,
Que há tempo na Justiça tava pendente.
Mais a coitada da muié num sabia.
E a respeito de tudo era inucente.
Num sabia que seu marido
Tava de lombo enxuto,
E de tanto apanhá,
Seu côro ainda tava quente.
No ôto dia bem cedo,
Todos os vizim,
Sobre esse fato,
Já tava consciente,
Pois notícia ruim corre o mundo
E chega de repente.
Dumingo dessa veiz quebrô o encanto:
Apanhô a segunda veiz
E acabô sua fama de valente.


De onde vem o autor desse livro?

Xiko Mendes

VALDIVINO MENDES de Souza, descendente de Silvério Mendes, é filho do casal João Mendes de Queiróz e de Dona Esteva Rodrigues de Souza (05/9/1929 – 6/7/2010). São duas famílias que vivem em Formoso há dois séculos. Valdivino nasceu em 23 de agosto de 1951, na Fazenda Muriçoca, e registrou-se em Formoso-MG (e sempre se considerou mineiro uma vez que essa região da margem esquerda do rio Carinhanha pertenceu ao Estado de Minas Gerais até 1948, coisa que pouca gente sabe). Desde o início da década de 1980, ele tem como esposa a Senhora Carmesita Alves Vilas Boas (Carmé). São seus filhos: Sandro, João, Juscelino, Jaime, Jair, Jakeline, Juscilene e Janete.
Aos nove anos de idade passou a residir na Fazenda Rasgado, de propriedade da viúva Idalina José de Almeida. Toda a sua adolescência foi vivida às margens do ribeirão Rasgado que recebe as águas do Lago Formoso onde se encontra a cidade de mesmo nome. Valdivino foi um dos operários que participou das obras de conclusão da Rodovia MG-400. Em 1977 atuou na frente de trabalho que construiu a ponte de concreto sobre o rio São Domingos como empregado da empresa Minas Empreendimentos de Engenharia Ltda.
Com o fim da obra, foi para Araxá-MG dia 28/5/77. De lá rumou para Brasília-DF em agosto de 1977. Morou no Distrito Federal por dois anos, em Planaltina. Entre 1979 e 1980 morou em Belo Horizonte-MG. Desde meados de 1980 passou novamente a residir em Formoso-MG no bairro Capuava. Valdivino Mendes é também autor de outro livro (inédito) cuja temática principal é, igualmente, o município de Formoso. Autodidata com profundos conhecimentos em história, geografia e religiões, resultantes de suas centenas de leituras, Valdivino é dono de uma das maiores bibliotecas particulares em Formoso, atualmente. Isso demonstra quanto sempre foi um homem devotado à cultura e aos belos e sagrados frutos do espírito humano.
(#x#x#x#x#)
O sobrenome Mendes surgiu na Península Ibérica e é de origem patronímica. No princípio os filhos cujos pais eram chamados Menendo passaram a ser apelidados de Mendes. O nome Menendo é uma forma abreviada do nome Hermengilt (Hermenegildo), palavra procedente dos Visigodos que é de composição controversa, porém alguns crêem que o nome é composto do prefixo Ermen, que significa tudo ou inteiro; e do sufixo Gilt ou Gild, que significa sacrifício ou tributo. Dessa forma, Hermenegildo significaria sacrifício total. Com o tempo, o nome Menendo ganhou a forma abreviada Mendo até ganhar a forma atual: Mendes. Mais tarde também se assimilaria o nome Mendes aqueles cujos pais eram homens chamados Mendel e Mem.
O sobrenome Mendes ou Mendez foi adotado, primeiramente, por famílias espanholas antes mesmo da independência de Portugal, em 1.139, inclusive alguns historiadores consideram que D. Afonso Henriques, o primeiro rei português, teve por aio o arcebispo de Braga D. Paio Mendes que se tornou o conselheiro do monarca.
Em Portugal o primeiro membro dessa família a se destacar foi o guerreiro e gentil-homem Gonçalo Mendes da Maia, que participou das guerras de Reconquista Cristã, no século XII, que expulsou os Mouros (árabes) de Portugal. Outro que se destacou foi Diogo Mendes de Vasconcelos (1523-1599), escritor e diplomata que representou o rei português D. João III nos debates que resultaram nas decisões do Concílio de Trento diante da Reforma Protestante. Na Espanha, Dr. Luiz Méndez de Haro Y Sotomayor (1598-1661) foi um dos primeiros dessa linguagem a ter grande destaque político ocupando os cargos de Primeiro-Ministro da Monarquia e Diplomata, ocasião em que assinou o acordo Paz dos Pirineus, em 1659. Ele nasceu em Valadolid, lugar onde morreu o Descobridor da América, Cristóvão Colombo.
No Noroeste de Minas a família Mendes está presente em Paracatu, em Unaí e em Formoso, há 250 anos. O mais antigo e conhecido membro dessa família é o Padre Antônio Mendes Santiago. Ele primeiro morou em São Romão-MG, época em que instigou e participou, em 1736, da Conjuração do São Francisco, revolta que bem antes dos Inconfidentes, contestou o pagamento de impostos abusivos à Coroa de Portugal. Em sua fuga veio parar na mineração de Paracatu onde foi fundador e 1º dirigente da Paróquia de Santo Antônio no período entre 1745 e 1775. Essa paróquia é a primeira do Noroeste de Minas e foi criada na gestão dele, em 8/2 de 1755. Mulherengo e avesso a enviar os dízimos para a Diocese de Olinda-PE, segundo os historiadores Oliveira Melo e Diogo de Vasconcelos, ele passou o resto da vida nessa fuga existencial. Segundo o escritor Braziliano Braz, quem chefiou a auditoria na cobrança de impostos desses revoltosos foi o Dr. Sebastião Mendes de Carvalho, então Diretor da Real Fazenda, em Goiás. Talvez eis aí o motivo que facilitou a impunidade do Padre Mendes.
Em Formoso o Patriarca da Família Mendes é o pecuarista Silvério Mendes Teixeira, que viveu em nosso município na primeira metade do século XIX e era dono da Fazenda São Pedro. Em seus livros sobre Formoso, os escritores João Rocha e Miguel Carneiro, também descendentes de Silvério, afirmam que Silvério casou-se duas vezes. Os Mendes de Queiróz descendem de seu primeiro matrimônio enquanto a Família Carneiro de Formoso originou-se do segundo casamento dele nos anos 1840. Também o historiador Aderbal José de Sousa, em seu livro sobre Mambaí-GO, cita Geraldo Mendes, intelectual e ex-prefeito daquela cidade, como descendente de Francisco Mendes Teixeira, e, segundo ele, provavelmente era irmão ou primo de Silvério. Valdivino Mendes, que agora estréia como escritor, e o escritor Xiko Mendes, são continuadores dessa tradição literária da família Mendes que em Formoso é tão bicentenária quanto Tavares, Ornelas, Rodrigues, Almeida, Pereira, entre outras, que contribuem e contribuíram com o nosso progresso.